segunda-feira, abril 28, 2014

Junho e a mídia corporativa

As manifestações de junho arranharam a hegemonia burguesa no Brasil. Não cindiram essa hegemonia, ou mesmo existiu uma crise dela, mas as manifestações modificaram alguns consensos existentes, colocando um novo “senso comum” na arena da luta de classes. Dentre eles, podemos destacar: 1) O brasileiro também luta, não é um povo apático e passivo que aceita qualquer coisa de seus governantes; 2) Mobilização social é algo legítimo, fazer manifestações é algo justo; 3) É possível vencer, pois abaixamos a tarifa e demonstramos que a luta pode mudar os rumos da história.
 Outros “senso-comuns”, ou críticas ao senso comum se colocaram, mas não se tornaram, ainda, parte de um consenso estabelecido que deva ser abarcado pelos dominantes: 1)A imprensa não é neutra, ela tem lado e em geral se posiciona contra os interesses da população; 2)A polícia militar deve ser superada, por ser uma instituição que atua de forma repressiva contra os interesses da maioria. Os consensos ainda seriam 1) A imprensa é neutra e defende de forma isenta o melhor para todos; 2) A política militar, apesar dos problemas, é necessária.
Os primeiros três pontos elencados são novos consensos estabelecidos. Os dois seguintes são críticas ao consenso estabelecido, mas que ainda não se tornaram um novo senso comum. Sobre esses pontos, o senso comum atual ainda abarca e mantém o consenso anterior às manifestações.
A criação de novos consensos, especialmente os que fortalecem a auto-organização “dos de baixo” é um dos marcos fundamentais da disputa de hegemonia, como também do papel de direção dos dominantes. Para as classes dominantes, não basta exercer o controle e a coerção, é necessário dirigir intelectual e politicamente os dominados, o que só é possível a partir de certos consensos estabelecidos a seu favor. Para manter o domínio, é necessário direcionar os novos consensos a seu favor, mesmo que são contrários aos seus interesses, colocando-os de forma subordinada ao seu programa estratégico, de classe.
O que está ocorrendo neste momento é uma tentativa, por parte de partidos e aparelhos privados de hegemonia das classes dominantes, especialmente a mídia corporativa, de modificar os novo consensos estabelecidos após junho, e “limpar” o possível dano aos consensos que foram atingidos. Ou seja, reestabelecer os marcos da hegemonia burguesa anterior às manifestações. Entretanto, a luta de classe não é linear: só é possível construir novos consensos avançando, criando uma nova correlação de forças, e caso os novos consensos estabelecidos fossem derrotados, a direção intelectual e moral dos dominantes seria reestabelecida num novo patamar, que ampliaria sua capacidade de coerção.
A movimentação dos dominantes ocorreu devido a certa “quebra” ou “descuido” de parte dos dominados (que pode ocorrer a partir de um ato fortuito), que desorganizou as “tropas” de seus inimigos. Com a tropa inimiga (dominados) desorganizada, apareceu uma nova chance para que se utilizasse de forma eficaz toda a “artilharia”, a qual abriria espaço para se tomar sua trincheira. A artilharia não tem pode atuar eternamente, assim sua utilização, para ser mais eficaz, deve ser pautada por momentos oportunos, mesmo que seja necessário a criação dessa oportunidade através dos movimentos mais gerais. Destruindo e tomando as novas trincheiras inimigas, seria possível “cercar” suas casamatas e fortalezas. Neste caso, as trincheiras inimigas são os novos consensos estabelecidos e às críticas que avançaram; as casamatas são as mobilizações (auto-organização da classe) e o PSOL. Ao utilizar a artilharia, as casamatas são atingidas, mesmo que não destruídas. Uma artilharia extremamente forte poderia destruir uma casamata, mas isto não é provável, já que se assim fosse, a casamata sequer existiria, na medida em que a artilharia poderia ter sido usada anteriormente para destruí-la antes mesmo da sua construção.
É difícil atuar sob fogo inimigo, especialmente quando a tropa está desunida por algum motivo. Encontramo-nos neste momento. Entretanto, apenas tentar unir a tropa e esperar o tiro inimigo não basta, é necessário demonstrar que também temos nossa artilharia, e que nossas trincheiras estão fortes, e nossas casamatas foram pouco atingidas.
Logo, precisamos além defender nossas casamatas (as grandes manifestações e o PSOL, e dentre desses seus mandatos e militantes que foram atingidos), também atirar no inimigo, reagir, para que ele não fique tão tranquilo e organizado para atirar ainda mais. É necessário demonstrar a contradição de diversos discursos que são as balas da artilharia, como “quem financia quem”, “quem manipula quem”, “a quem serve a mídia corporativa”, “qual é o papel da polícia nas manifestações”, dentre outros. Atacar a ideia e quem difunde a ideia (O GLOBO, VEJA, O DIA, etc). Defender-se é a prioridade, mas não é possível uma defesa numa guerra sem balas que atinjam o inimigo.

Não é possível definir ao certo o que sairá deste confronto, pois ainda estamos no meio dele. Mas já é possível definir que a arena foi modificada, e que devido à nova movimentação das tropas e das artilharias, os novos consensos necessários terão um novo paradigma, mais polarizado. A crença na “estabilidade da ordem”, própria da visão reformista, perderá espaço, tendo em vista que a própria luta de classes será cada vez mais dinâmica, pois o lado de lá não pode apenar manter sua tropa e utilizar novas trincheiras e casamatas (como o PT), já que novas casamatas foram construídas do lado de cá. É um momento de polarização, e a partir dele, aproximar-se do PSOL, mesmo que através do voto, será cada vez mais visto como uma tomada de posição, de aproximação de certa casamata, que foi atacada pelo inimigo e, por isso, está mais a vista para todos. 

Sobre bandeiras e partidos nos movimentos de massa

Os movimentos de massa tem uma dinâmica própria, de difícil compreensão em curto espaço de tempo. Um dos nossos guias para entendermos esses movimentos são os aprendizados históricos, sejam de nosso país, sejam de outras experiências em curso.
A traição do PT despolitizou a política. Ao contrário da ditadura militar, onde os partidos eram forjados “por cima” (MDBxARENA), e que o movimento contra a ditadura tomava corpo na construção de novos partidos, hoje estamos numa “democracia burguesa” (uma “democracia de araque”, “falsa democracia” ou qualquer outro termo também é bem-vindo). Assim, a luta do PT pelas diretas já ocorreu em conjunto com a sociedade civil, que abraçou, em grande medida, a causa de “um partido sem patrões”. Hoje estamos noutra conjuntura.
Esta nova conjuntura de traição de classe do PT não fez apenas com que a esquerda perdesse espaço: a própria política perdeu espaço, e com ela, um questionamento amplo no senso-comum sobre a necessidade ou não de partidos. Existe um senso comum contra os partidos, e é nesta realidade que estamos imersos:
“A espontaneidade é característica da história das classes que ocupam um lugar subalterno na sociedade e, como tal, é condicionada pela ideologia da classe dominante. Logo, a ação espontânea das massas resulta da mistura desordenada, desarticulada de elementos ideológicos da classe dominante com concepções oriundas das próprias da própria vida das massas, a nível de bom senso. É, portanto, uma ação fundada no senso comum enquanto concepção de mundo fragmentária, dispersa e incoerente, difundida no interior das classes subalternas”

Estes elementos difusos que se relacionam ( como nacionalismo/bandeira do Brasil, rejeição aos governos, rejeição a repressão, “não a depredação”, “não aos partidos políticos”) são o caldo ideológico de manifestações espontâneas de massa, e que refletem o atual nível da consciência das classes subalternas. É neste terreno que estamos nos movimentando.


Levando isto em consideração, é importante uma ressalva: grandes mobilizações foram feitas sem a presença de bandeiras partidárias, o que não necessariamente demonstra  que elas “não nos servem”. Revoluções foram feitas sem a presença de bandeiras de partidos. Ou seja, temos que perceber este senso-comum, e atuar nele de forma coordenada, para daí extrair um “bom senso”:

“O núcleo do bom senso, no interior dessa concepção de mundo dispersa do senso comum, expressa o mínimo de reflexão própria das massas nos seus movimentos espontâneos, configurando um esboço de pensamento particular, próprio que precisa ser articulado, unificado, através do elemento de direção”

Precisamos trabalhar, de forma pedagógica, de que o pertencimento ou não a partidos é uma escolha pessoal (inclusive é um direito). Mas distribuir centenas de bandeiras partidárias numa manifestação deste tipo, de forma coordenada, “agride” este senso comum, que se revolta, e dele “cospe” seus fatores mais reacionários, através da queima das bandeiras, agressões. Para este senso-comum, seu direito “individual” de não escolher partidos está sendo cerceado, pois em seu mundo imaginário, não deveriam existir partidos.

O processo de politização é longo. A maioria dos membros das passeatas atuais não é anticapitalista, muito menos tem simpatia por este ou aquele partido socialista.  Com o tempo, quando estas revoltas acabarem, estaremos num outro processo de luta, e aos poucos, com maior politização. Mas até lá temos que dialogar para construção deste bom senso.

E muitos anticapitalistas usaram bandeiras da Turquia, uma pátria com um nacionalismo bem complexo, que até hoje detém símbolos islâmicos como marco. Ou bandeiras do Egito, Tunísia, Síria...

Obviamente, preferíamos de uma bandeira nacional que estive escrito “Justiça Social” ao invés de “Ordem e Progresso”. Este é um segundo momento de debate, de diálogo com este senso comum.

Ou seja, não precisamos deflagrar dezenas de bandeiras dos nossos partidos nas passeatas. Nossa bandeira é a luta anticapitalista, e não existe nada mais anticapitalista que mobilizações de massa. Os participantes mais conscientes aos poucos perceberão que para ocorrer uma transformação profunda na sociedade é necessário um programa, e uma organização que lute pela sua efetivação, e poderão (ou não) se aproximar de algum partido. Até lá dialogaremos, e questionaremos todos e todas que queimem as bandeiras dos outros, como um ato extremamente antidemocrático. Mas nosso papel, como socialistas, é entender a conjuntura e atuar nela para que mude. A realidade é o nosso guia para a ação. E nossas bandeiras, e lemas, estarão em nossos corações, pulsando vermelhos como sempre.








quinta-feira, abril 17, 2014

Atraso do tempo

Li Cem anos de solidão "atrasado", pois comecei minha viagem pela literatura pelos quadrinhos, na adolescência. Foi um livro que me marcou muito, tanto pela forma, quanto pela maneira em que se desenrolava a história; um ritmo arrastado, em que o tempo se demonstrava como parte do enredo, em que os nomes sucessivos que geravam confusão eram quase um detalhe no emaranhado de cores, sons, luzes e névoas que habitavam Macondo. Mas o livro dele que mais me marcou foi "Amor nos tempos de Cólera," um enredo que tinha tudo para ser bláse, sem graça, quase uma ode ao amor ufanista, mas que pela delicadeza e cuidado tornava-se um caminho singelo ao amor palpável, humano, sublime. Depois de alguns anos, ao passar por uma livraria, resolvi comprar um dos volumes de seus escritos jornalísticos, o dedicado ao jornalismo político. Além de aprender um pouco sobre a prática da escrita e da história de nuestra américa, descobri lá que "Gabo" se via como jornalista, e não escritor, e que começou a escrever romances porque suas matérias estavam ficando cada vez maiores. E que para contar a realidade, nada mais factível que o fantástico e o mágico; nada mais próximo do que vivemos do que a poética da literatura e seu mundo. Aprendi a ser mais próximo do que acredito, e de que o que pensamos sobre a humanidade e o mundo deve estar ao lado da maneira pela qual vivemos, sentimos e vemos essa mesma humanidade e mundo. Nada melhor do que um livro do "Gabo" para nos humanizarmos, e assim nos fortalecer a fé de que é possível uma grande revolução construída por braços, pé, e amores, por todos e todas nós.

quarta-feira, dezembro 18, 2013

Quase uma foto

Olhar-te deitada é quase uma foto.

Daquelas que são guardadas na alma.

Ali, como agora, sorri.

E ainda vem esse vento que leva as nuvens embora
e traz você.

Parece um carteiro
que certeiro
entrega outras memórias.

São fotos que só eu tenho.

Nunca serão papel.

Estão no infinito
intocável
que você refaz em mim.

domingo, novembro 10, 2013

Pelo caminho

Ao andar de volta para casa, encontrei uma senhora. Magra, ela caminhava lentamente. Tinha dificuldades para se locomover, e utilizava dois paus de vassoura como muletas improvisadas. Levantava a primeira perna, bem devagar. O sol continuava forte, e realçava o lenço colorido que lhe cobria a cabeça. Ao colocar o pé esquerdo no chão, levantava o outro. Seu rosto, força e serenidade. A ponta das madeiras tinham esparadrapos, que facilitavam para que as mãos as segurassem. E assim, dava mais um passo. Já me encontrava longe, mas ela caminhara bem mais que eu.

quinta-feira, novembro 07, 2013

Entre Beagles e Black Block’s: a vida como uma novela das oito

Não tenho conhecimento, do ponto de vista estritamente “cientifico”, para afirmar que as pesquisas com Beagles são totalmente sem sentido. Aparentemente, é uma forma barata e lucrativa de se realizar testes, que provavelmente teriam seus custos elevados caso respeitassem o bem estar animal. Acredito que, por principio, devemos ter uma relação harmoniosa com a natureza e todos os outros seres como parte de nossa existência. Entretanto, não é estranho ou mesmo inesperado que os Beagles, pela sua estética e por serem cães, terem maior repercussão em testes do que outros mamíferos, como coelhos e ratos, mas esta diferenciação demonstra um pouco como a sociedade em geral pode “selecionar” aqueles que devem ser tratados como próximos, e aqueles que não, tendo em vista sua “função social”. Os Beagles parecem ter uma função social, (parte de “nós”), enquanto os outros mamíferos, por terem outros papeis na relação com o homem, são “desprezíveis”. Esta é uma pauta quase consensual na mídia grande, pois tem amplo apelo dramático. A visão da vida como uma grande novela, com suas performances e atores, fazem da pauta dos Beagles, com músicas de piano ao fundo, um momento de posicionamento desta mídia grande: “olhem, eles realmente pode estar sendo maltratados, temos que prestar atenção nisso”. 
Já os Black Blocks, tem reação oposta, mas essa continua dentro da lógica geral da “pauta dramática”. Os elementos estão lá: fogo, destruição, conflito, máscaras. A estética do espetáculo. E, ao contrário dos Beagles, não são parte de “nós”. São eles, que atuam de forma irracional, como animais que matam uma presa para saciar sua fome. Não defendo a atuação dos Black Blocks como forma de militância pura e simples, mas tenho clareza que sua existência ocorre como reação à violência estatal. Cessada a violência de classe, não existiriam mais “Black Blocks”. Exatamente por estar colocada, de forma subtendida, uma reação ou não a conflitos sociais mais gerais, criminalizar os Blacks Blocks é tão importante. E do foco a um grupo, se criminaliza o todo. 
Uma manchete poderia ser escrita como “Vândalos destroem centro de pesquisa e roubam cães, que se encontram em paradeiro indefinido”, ou “Devido a violência policial, ativistas resistem”. Depende de quem escreve a matéria. E de quem lê. Mas a vida, por ser novela, não pressupõe leitura, apenas drama e lágrimas. Depois de chorar e rir, voltemos ao trabalho e a viver como potenciais personagens de uma novela fictícia em busca do final feliz.

segunda-feira, novembro 04, 2013

Descobrindo o “rei do camarote” que existe em nós

O video produzido pela Veja SP, no qual a estrela é um empresário que gasta muito dinheiro em noitadas está fazendo grande sucesso na internet. O personagem em questão compra bastante champanhe com preços elevados (e com uma vela de aniversário ridícula). Tem na ostentação sua “forma de ser” na noite. Além disso, seu estilo caricato, seu exagero e vocabulário limitados fazem com que chame ainda mais atenção. Entretanto, até que ponto o ele é regra e não exceção?

Nossa sociedade tem como um dos pilares fundamentais a demonstração de acúmulo de riqueza. Seja através de bens de consumo (carros, roupas, viagens), ou pelas “companhias” (fazer parte de certos grupos sociais), o fundamental é ser alguém “importante”. As celebridades instantâneas dos Big Brothers, Casa dos Artistas, A Fazenda; atores, atrizes e modelos e seus concursos de beleza.

Em certo sentido, todos nós, numa proporção maior ou menor, carregamos as marcas da sociedade em que vivemos, e de forma contraditória, reproduzimos seus valores. Também ri vendo o vídeo do “rei dos camarotes”, e em certos momentos, achei extremamente patético. Mas precisamos olhar a nossa volta, e tentar entender porque este tipo de pessoa existe. Talvez ele seja apenas uma demonstração clara de um padrão dominante.

No filme “Os idiotas”, de Lars Von Trier, um grupo de amigos busca formar uma sociedade a parte, dedicada a explorar todos os aspectos da idiotice como valor de vida. Aqui a referência é a idiotia, ao retardo mental real, e não ao adjetivo “idiota” (sinônimo de imbecil, irrelevante, sem conhecimento). O objetivo seria questionar a sociedade buscando o “idiota que existe dentro de você”. Com um final surpreendente, roteiro inusitado e filmagem com câmera de mão, o filme foi marco do nascimento de um movimento o “Dogma 95”, que acabou por render importantes frutos e questionamentos nos rumos do cinema no final da década de 1990.

Temos que criticar os exageros, rir do que é inusitado, mas também perceber nossa imagem ao espelho. São muitos (talvez maioria?) que nas noites e afazeres cotidianos tem um “rei do camarote” em potencial guardado em seu ego, aflorando aqui e acolá. No filme, os idiotas tentam questionar pela estética um mundo sem sentido aparente. Na vida real, a aparência nos torna “imbecis”, e ao rir dos outros, precisamos singelamente olhar um pouco mais para o que somos. Seja o nosso guarda roupa, a música que gostamos ou o padrão de beleza que valorizamos.

Qual é o “champanhe” da matinê dos seus sonhos? Olhei para o meu, e confesso, ainda tenho muito a mudar por aqui. Ou, quem sabe, trocar por vodka mesmo.

quarta-feira, outubro 23, 2013

sábado, outubro 05, 2013

De americanismo e fordismo

"O homem-industrial continua a trabalhar, mesmo se milionário, mas sua mulher e suas filhas tornam-se cada vez mais "mamíferos de luxo". Os concursos de beleza, os concursos para escolher atores cinematográficos (lembrar as 30.000 jovens italias que, em 1926, enviaram fotos em traje de banho para a Fox), o teatro, etc, selecionando a beleza feminina mundial e colocando-a em leilão, geram uma mentalidade de prostituição; e o "tráfico de mulheres" é feito legalmente para as classes altas. (...) a prostituição real prolifera, mal disfarçada por frágeis formalidades jurídicas". Antonio Gramsci

domingo, setembro 15, 2013

Serei o seu chapolim



Quadro a quadro um cinema
Um filme novo que se faz
Mas era hora de esquecer
Essa história meu rapaz

Que retorna sem demora
Na memória de um coração
Partido que sem juízo

Ainda teima em dizer
O que não devia
E a alegria
Sem aviso
Assobia uma canção
Que me recorda tudo aquilo
que já fomos um dia

Enfrento todos malfeitores
Serei o seu chapolim
Se você voltar pra mim

Planto flores, canto amores
Torno a vida um jardim
Se você voltar pra mim

Tenho certeza que a natureza,
O céu a lua e todas estrelas
Conspiram a favor do nosso amor
E abençoaram
Toda riqueza
que sua beleza traz
E transborda em vielas ao caminhar
Por minha vida mesmo que eu decida
Que já não é hora mais de continuar

segunda-feira, setembro 09, 2013

Nossa felicidade

Mesmo com todas as dificuldades, dores e dissabores, não acredito que exista vida mais psicologicamente saudável e humanamente prazerosa do que a realizada através da luta pela dignidade de todas e todos. A dor do mundo, desde a criança no colo na praça, e do trabalhador no sol da torre alta, que nos corrói e entristece, erradia, pulsante, alegria quando aos poucos tentamos, sozinhos e coletivamente, transformar a realidade, mesmo que seja quase imperceptível aos olhos de muitos. E desta dor que renasce nossa vontade, e dela, como o samba de letra triste e colorido em seu cantar, na contradição que é viver onde existem explorados e exploradores, que fundamos nosso desejo de mudança. O amor pela humanidade passa pelo amor próprio, na medida em que esse indivíduo que somos, apenas pode existir socialmente através do Outro. Não existe felicidade maior do que deixar outro felizes. Se como diz frei betto, o socialismo é o nome político do amor, a revolução é o nome político da felicidade.

quinta-feira, agosto 29, 2013

O passar que você me traz

Se você passa, e vejo seu doce sorriso
É como se se a vida, 
Em breve suspiro
Dissesse:
Garoto, reverencie.

Se você passa, e vejo seu olhar
É como se a nuvem,
Ao dar espaço para o luar,
Comentasse:
Rapaz, compreenda.

Se você passa, e vejo sua boca
É como se o mar
Com arrebentações vorazes
Declamasse:
Menino, deseje!

O que não passa
E continua arraigada no meu peito
É a certeza
De que você devia estar aqui.

sábado, agosto 10, 2013

Sossegado




Quem sabe eu terei o porto brando que sonhei pra mim
Quem sabe eu serei da dor dos pobres mais que um motim
Quem sabe eu verei um novo tempo pronto a raiar
Quem sabe até quando existe força para continuar

O caminho é mesmo estranho amor
Estou em casa seja onde for

Eu quero é você ao meu lado
Pois contigo fico assim, sossegado
Entre os conflitos que enfrento por viver
Da mesma dor que nasce o sol, ao chover

Mas a vida se faz sempre aos poucos, e assim será
A única certeza é que a dúvida existirá
Se estamos juntos, somos mais do só que cada um
Se estamos perto, o  que é certo é o incomum


Eu quero é você ao meu lado
Pois contigo fico assim, sossegado
Entre os conflitos que enfrento por viver
Da mesma dor que nasce o sol, ao chover



Entre aquele que peleja
E o bolo que a cereja comprou
Qual o pedaço que restou? 


terça-feira, agosto 06, 2013

Ser professor

Ser professor dá trabalho, cansa, ganhamos menos do que deveríamos. Mas lutamos, e somos recompensados a cada gesto de carinho, de reencontro com os estudantes que se formaram, de lembranças e aprendizados. 

Eu aprendi muito mais do que ensinei na escola. Os estudantes demonstraram sempre que nos momentos mais importantes, são exemplos de seres humanos. Acredito nos estudantes, sejam eles jovens, ou adultos, que também tive o prazer de dividir uma sala escolar na educação de Jovens.

Já trabalhei no Ensino Superior, fundamental, médio e EJA. 

O que me dá mais alegria e onde me vejo com maior função social é no ensino fundamental. É ali que grande parte da nossa concepção de mundo está sendo formada, e como educadores temos importante contribuição. Os estudantes que mais me ensinaram como ser professor foram os do ensino fundamental. 

Só quando valorizarmos a educação básica para além dos formalismos acadêmicos é que poderemos ter a certeza de que a educação como um todo, formal e não-formal, será a base do novo mundo que queremos construir. Ser revolucionário é estar onde o nosso povo está, sempre!




Ô, Menina! Todos dizem que a gente é diferente, que não tem nada a ver. 
Você só vê filme estranho, e eu mal aguento assistir
aqueles da TV.
O seu texto é erudito,
Seu andar é bonito, seu olhar
É especial. 

Eu sou todo esquisito, mais pareço
Um mosquito
Do espaço sideral.

Mas, ô menina! Seja agora, ou depois: tenho a certeza que o tempo
Sábio como ele só
Ira falar
Por nós dois

Você faz festas 
Badaladas
É o sucesso
Da noitada
Cheia de popstar
As minhas só tem os meus cinco amigos na sala de estar.

Você sempre tá na moda, agora 
a grande sensação 
é na internet te seguir
Enquanto aqui na minha casa
Quem me segue é meu cãozinho
Que não para de latir!

O novo governo do PT em Niterói: Quais são os desafios dos socialistas frente a um governo de conciliação de classes?

 Rodrigo Neves, dirigente do Partido dos Trabalhadores (PT) de Niterói, foi eleito prefeito da cidade para os próximos 4 anos, tendo 34,55% dos votos dos eleitores (132.001). Felipe Peixoto (PDT) teve 31,20% dos votos (119.205). Abstenções, brancos e nulos somaram 34,24% (130.815).  Estes números demonstram uma rejeição à participação política em geral, ou aos candidatos que disputavam o pleito? Provavelmente, as duas coisas.

Jorge Roberto Silveira (PDT) foi eleito com 168.465 votos em 2008. Em pesquisa do IBPS, em fevereiro de 2012, seu governo aparecia com 72% de rejeição. Somando os votos do PT, e aqueles que de alguma maneira rejeitaram o processo eleitoral (31,20% + 34,24) chegamos a 65,44% da população, número próximo ao da rejeição de Jorge, o que nos indica que grandiosa parte do eleitorado que ainda tinha alguma esperança no ciclo Jorge Roberto/PDT votou em Felipe. Nem todos aqueles que votaram em Felipe Peixoto (PDT) aprovavam o Governo Jorge Roberto e seu ciclo histórico, mas aparentemente a ampla maioria dos seus votos veio desse segmento da sociedade.

 Antiga capital do estado, antes da fusão do Rio de Janeiro com a Guanabara, Niterói tem a quarta maior economia fluminense, com Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 10,8 bilhões.

Como diz a nota do PSOL-Niterói “Felipe Peixoto e Rodrigo Neves começaram suas trajetórias ligados a Jorge Roberto Silveira, foram inclusive seus secretários. Votaram a favor de questões que a nosso ver contrariavam os interesses públicos da cidade, como os atuais parâmetros urbanísticos da Orla da Baía, que permitiram a multiplicação dos espigões na cidade, aprovados em 2002, a portas fechadas na Câmara de Vereadores. Felipe votou a favor do inchaço da máquina pública, inclusive do conselho consultivo. Rodrigo votou a favor da cobrança de pedágio no Túnel Charitas – Cafubá. PT e PDT têm em Niterói ou no Brasil estimulado e implementado a privatização e o sucateamento dos serviços públicos com terceirizações e organizações sociais. Recentemente, Felipe e Rodrigo foram secretários de Sérgio Cabral e nunca disseram nada contra a precarização do serviço público, o desrespeito aos profissionais, dentre eles os professores e bombeiros. Também calaram ante os desrespeitos à população de Niterói, como no caso do aumento abusivo da tarifa das Barcas ou do sucateamento da segurança pública da cidade, com o abandono dos GPAES justo no momento de implantação das UPPs na cidade do Rio. Ambos apresentam-se como novidades cercados da velha política da cidade que, ao apagar das luzes, buscaram aprovar na Câmara de Vereadores um aumento de mais de 60% em seus próprios salários, do prefeito e dos secretários. Isso no momento em que se fala em cortar cargos comissionados.”

Dessa maneira, Felipe Peixoto e Rodrigo Neves, apesar de aparentemente expressarem vínculos diretos diferentes do ponto de vista das frações das classes dominantes, de forma mediada aplicam um projeto que unifica localmente a exploração por parte daqueles. A eleição no segundo turno foi apenas para definir quais seriam os condutores de um mesmo projeto político. Só existiria uma polarização de projetos caso o PSOL, na figura de Flavio Serafini, tivesse chegado ao segundo turno.

O PSOL de Niterói, fundado em agosto de 2005, tem uma trajetória vinculada às pautas dos explorados da cidade. Em sete anos de construção política pela base, dialogando com aqueles que organizam a luta dos trabalhadores e oprimidos, é uma expressão viva de que um programa e suas ideias, quando se tornam movimento, transformam-se em força material real. Do ponto de vista eleitoral, desde o apoio a candidatura do atual vereador Renatinho ainda pelo PT, trazendo-o para a construção do novo partido. Destaca-se, ainda, a eleição do então desconhecido niteroiense Marcelo Freixo como Deputado Estadual em 2006, com apenas 13 mil votos (eleição na qual Paulo Eduardo Gomes, também de Niterói, tornou-se o primeiro suplente). Em 2008, o PSOL elegeu com o segundo vereador mais votado da cidade (Renatinho), fez uma campanha contra uma máquina eleitoral fortíssima (Jorge Roberto se elegeu no primeiro turno), e Paulo Eduardo se estabelece com 8% dos votos, ficando a frente do PSDB de Gegê Galindo. A aliança desta eleição era PSOL-PCB-PSTU.

Se o aumento das desigualdades sociais na cidade foi a tônica da década de 2000-2010, o fato é que Niterói tem um histórico de governos que se propõe na aparência a realizar projetos para a maioria da população, e na prática constroem a hegemonia das classes dominantes. Talvez a cidade tenha “adiantado” o processo de hegemonia do social-liberalismo sem ter passado por um governo neoliberal clássico. O PDT de Jorge Roberto tem no seu histórico a construção dessa “revolução-restauração” no  pós-ditadura militar: ampliação de serviços públicos (com destaque para o pioneirismo do médico de família), urbanização de favelas e construção de equipamentos públicos, dentre outros, com a autonomia financeira possibilitada pela Constituição de 1988 para os municípios. Entretanto, do ponto de vista das classes dominantes, existiu uma grande estabilidade que possibilitou a reorganização espacial da cidade em seu espelho, com bolsões de pobreza e grandes prédios dividindo territórios. Niterói tem um histórico de resistência, desde a fundação do PCB em 1922, a revolta da Cantareira sobre as Barcas em 1959 (ano da revolução cubana), dentre outros marcos fundamentais, sendo um espaço de resistência e disputa durante a ditadura civil-militar de 1964.

Os condutores deste projeto social-liberal de conciliação de classes pelos dominantes, tendo a frente a figura “cesarista” de Jorge Roberto Silveira, estiveram no governo desde 1989 até 2002 (aqui já com o apoio da maioria PT, e sua participação na prefeitura). O “interregno” do Godofredo Pinto manteve grande parte da direção das classes dominantes no interior da sociedade política, o que se demonstra pelos amplos acordos construídos no secretariado e na Câmara Municipal. Apesar de algumas divergências, o projeto PDT-PT era o mesmo, o social-liberalismo.

Avaliamos como marco de uma nova conjuntura a reação social a tragédia de abril de 2010. Uma tragédia de grandes proporções como aquela pode inclusive catapultar um projeto conservador de remoções se servir como base a um consenso conservador. Mas, em conjunto com a luta histórica da cidade, seus movimentos sociais, parte ativa daqueles que constroem o PSOL articularam uma ampla rede de solidariedade e mobilização social. Um grande desgaste e quebra de consenso em torno não apenas de Jorge Roberto Silveira, mas do projeto social-liberal em curso, estava colocado. Naquele momento Flavio Serafini já se destacava como referência dos trabalhadores moradores de favelas na construção do comitê de desabrigados.

Não foi a tragédia de 2010, ou uma desgaste “esperado” depois de décadas no Governo que enfraqueceram Jorge Roberto: foram estes fatores, em conjunto com outros, conjugados com uma organização genuinamente autônoma dos explorados, que fez avançar sua mobilização e consciência de classe. É a luta de classes que determina a construção ou não de consensos, possibilitando a hegemonia deste ou daquele projeto.

A eleição de 2012 pode ser considerada um novo marco na reverberação de outro projeto para a cidade, baseado num programa em defesa da necessária refundação democrática da cidade. O estrondoso fortalecimento do PSOL, com Flavio Serafini tendo 18,5% dos votos, e com a eleição de 3 vereadores (os 2 primeiros deles os mais votados, e elegendo um novato com muito expressiva votação, Henrique Vieira) é um momento que congrega aquilo que se construiu no passado, e possibilita avanços do ponto de vista dos subalternizados.

Ao enfrentar o governo Rodrigo Neves, o PSOL poderá construir um novo consenso de que é possível superar o projeto social-liberal através da mobilização dos explorados. Com a presidência de 3 comissões, que podem realizar audiências públicas, inclusive em conjunto, como também através do diálogo permanente com a sociedade civil-popular, este é um novo desafio. Os socialistas terão 3 vereadores de um total de 21.

Portanto, nosso desafio não será apenas resistir aos ataques das classes dominantes que certamente virão, em muitos momentos pautados, do ponto de vista organizado, pela sociedade política dirigida por Rodrigo Neves-PT. A escolha do secretariado, especialmente no que tange a política de Segurança Pública é sintoma de um governo que pode tender a um social-conservadorismo em momentos de crise.

Está colocada para os socialistas de diferentes matizes de Niterói a responsabilidade de construir amplamente, calcado na mobilização e formulação, de uma frente com todos aqueles que se propõe a construir o novo e que tenha como objetivo a refundação democrática da cidade pelos oprimidos e explorados. A disputa no interior da sociedade civil de um novo consenso, que possibilite a construção de uma contra-hegemonia permanente está aberta. Dar dois passos a frente não é só possível, como necessário.

segunda-feira, agosto 05, 2013



Nossa geração já tem o seu próprio AI-5

Em 19 de julho de 2013, o assim chamado Governador Sergio Cabral Filho, por meio de decreto, instituiu a criação da “Comissão Especial de investigação de Atos de Vandalismo em Manifestações públicas”, batizada de CEIV. Em seus “considerandos”, constam: 

“- os recentes e reiterados acontecimentos envolvendo atos de vandalismo perpetrados por grupos organizados, causadores de danos à incolumidade física de pessoas e destruição do patrimônio público e privado; e
- a necessidade de as instituições públicas incumbidas da defesa do Estado Democrático de Direito se organizarem para promover uma maior eficiência na investigação e na tomada de providência para a prevenção da ocorrência de novos atos de vandalismo e punição das práticas criminais já perpetradas.”

Em 13 de dezembro de 1968, o assim chamado Presidente da República, Costa e Silva, promulgou, por meio de decreto, o Ato institucional No 5.
Em seus “considerandos”, constam:

“- CONSIDERANDO que a Revolução Brasileira de 31 de março de 1964 teve, conforme decorre dos Atos com os quais se institucionalizou, fundamentos e propósitos que visavam a dar ao País um regime que, atendendo às exigências de um sistema jurídico e político, assegurasse autêntica ordem democrática, baseada na liberdade, no respeito à dignidade da pessoa humana, no combate à subversão e às ideologias contrárias às tradições de nosso povo, na luta contra a corrupção, buscando, deste modo, “os. meios indispensáveis à obra de reconstrução econômica, financeira, política e moral do Brasil, de maneira a poder enfrentar, de modo direito e imediato, os graves e urgentes problemas de que depende a restauração da ordem interna e do prestígio internacional da nossa pátria" (Preâmbulo do Ato Institucional nº 1, de 9 de abril de 1964);

-CONSIDERANDO que o Governo da República, responsável pela execução daqueles objetivos e pela ordem e segurança internas, não só não pode permitir que pessoas ou grupos anti-revolucionários contra ela trabalhem, tramem ou ajam, sob pena de estar faltando a compromissos que assumiu com o povo brasileiro, bem como porque o Poder Revolucionário, ao editar o Ato Institucional nº 2, afirmou, categoricamente, que “não se disse que a Revolução foi, mas que é e continuará" e, portanto, o processo revolucionário em desenvolvimento não pode ser detido;

- CONSIDERANDO, no entanto, que atos nitidamente subversivos, oriundos dos mais distintos setores políticos e culturais, comprovam que os instrumentos jurídicos, que a Revolução vitoriosa outorgou à Nação para sua defesa, desenvolvimento e bem-estar de seu povo, estão servindo de meios para combatê-la e destruí-la;

- CONSIDERANDO que, assim, se torna imperiosa a adoção de medidas que impeçam sejam frustrados os ideais superiores da Revolução, preservando a ordem, a segurança, a tranqüilidade, o desenvolvimento econômico e cultural e a harmonia política e social do País comprometidos por processos subversivos e de guerra revolucionária;”

Comparando o texto dos dois decretos, um elemento característico une os dois: elencar a existência de um inimigo público, que deve ser combatido pelo Estado para defender a “ordem”. No decreto de Sergio Cabral, os que “praticam atos de vandalismo”; no de Costa e Silva, os “subversivos”. 

Nos dois, o objetivo também é parecido: criar mecanismos que possibilitem a perseguição e destruição dos “inimigos públicos”, mesmo que para isto seja necessário a perda do direitos civis e políticos.

No Artigo 3º do Decreto, Governador do Rio determina que “as empresas Operadoras de Telefonia e Provedores de Internet terão prazo máximo de 24 horas para atendimento dos pedidos de informações da CEIV.”, isto é, que a CEIV tem o poder de requisitar informações privadas, passando por cima de qualquer rito processual, assim como realizava a política política (DOPS) na Ditadura Militar. No AI-5, o objetivo central era a suspensão de direitos políticos por parte da Presidência, e das consequências deste fim, como: 

“Art. 5º - A suspensão dos direitos políticos, com base neste Ato, importa, simultaneamente, em:
I - cessação de privilégio de foro por prerrogativa de função;
II - suspensão do direito de votar e de ser votado nas eleições sindicais;
III - proibição de atividades ou manifestação sobre assunto de natureza política;
IV - aplicação, quando necessária, das seguintes medidas de segurança:”

Com seu Decreto, Sergio Cabral quer reeditar o inciso III (proibição de atividades ou manifestação sobre assunto de natureza política) através da criminalização de certos manifestantes, alçados a categoria de “inimigos públicos”. Nossa geração já tem o seu próprio AI-5.

No dia 26 de junho de 1968 ocorreu uma concentração popular no bairro central do Rio de Janeiro, a Cinelândia, após a prisão de mais de 300 estudantes em diversas manifestações no Brasil. Às 14 horas, cerca de 50 mil pessoas se encontravam no local. No decorrer da passeata, já havia quase 100.000 pessoas, suscitando em um dos mais importantes eventos contra a repressão ditatorial do Regime Militar, a Passeata dos 100 mil. E em dezembro de 1968 vem o AI-5.

Em junho de 2013 temos as manifestações dos 20 centavos,que levam mais de 1 milhão para as ruas. E em julho do mesmo ano, vem o Decreto da CEIV.

Temos que reagir a escalada da repressão em nosso país.

Complexidade

O que é mais doído?
Beijo roubado
ou
amor 
apagado
pelo proibido?

Cuidar de Alguém




Rodrigo Teixeira - Cuidar de Alguém

Ilusão, cercaste nossos campos? 
Pouco a pouco, um ao outro
do deslumbre ao desencanto.
Desconfiado estrangulo
o que está previsto.
Se ainda resta a carne ao devaneio
resisto.
Turbulento sigo sem saber
o que fazer.
Bebo a luz
da lua
e me embriago de prazer.
Vivo para crer, morro pra me enganar: mesmo que seja impossível
conjugar o verbo amar.
Ia me fazer tão bem
cuidar de alguém. 

Às vezes a perfeição 
não é nada.
Sou menos que gostaria,
mas sou mais
do que esperava.
"Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena".
Verdade que engasga
tão difícil
de dizer.
Os sonhos que eu sonhei 
para mim não foram
os mesmos
que você.
Vivo para crer, morro pra me enganar: mesmo que seja impossível
conjugar o verbo amar.

Ia me fazer tão bem cuidar de alguém.

terça-feira, agosto 07, 2012

Por que olha minha luta com desconfiança?

Sim!

Meu sonho é enorme:

Na rua

criança

não dorme.

Queremos vida, não martírio.
Amor que supere o
frio.

E numa placa
um aviso
a proclamar:

Cada sorriso
que desacata
seu olhar

é uma nova esperança
para que eu continue
a acreditar.

Sim, ela virá!

Revolução: esta

querida vadia.

Redenção, coragem e ousadia.

Repito, a cada santo dia!

Sim,
ela já vem!

Sim,

ela virá!

Olha, olha lá!

E ao nos olharmos, finalmente nos encontramos
e o choro não fez mais sentido.

segunda-feira, julho 23, 2012

Beauvoir e os mitos

"A parte III de "O segundo sexo" (Simone Beauvoir) é intitulada "Mitos" e é dedicada a exploração das fantasias que os homens nutrem sobre as mulheres - fantasias que justificam sua subordinação. Ali são descritas as batalhas travadas pelo homens para realizar - conjuntamente, por meio das mulheres e contra as mulheres-, as fantasias que eles permanentemente criam sobre as mulheres como natureza, carne e poesia. A mulher constitui-se ali em um outro, um escravo, uma companheira dos desejos caprichosos dos homens em busca de sua autorrealização egoísta, ídolo de culto, uma simples distração ou recompensa pelas ansiedades provocadas pelo envolvimento deles em uma competição (nobre ou cruel) com os demais homens. As mulheres prestam-se a diversas funções aos homens em suas projeções de si mesmos, em suas limitações e esperanças. " Pag 141, Burawoy. Omarxismo encontra Bordieu

sábado, abril 28, 2012

Quem era ela

Ela olhou a loja de celulares.

Olhou o espelho e se viu.

Mas nada

(nem ninguém)

olhou para ela.

Ela ainda era

o espelho
e a loja de celulares.



quinta-feira, março 22, 2012

Seja minha

Seja só, mas não seja só minha

Sua liberdade é mais que a vontade de te ter comigo
Nosso sonho importuno:
amo você e o  mundo e não seu umbigo!

E Não seja apenas metade:
Seja minha, Seja minha
minha infinidade!

segunda-feira, março 05, 2012

A utopia está entranhada na minha alma

Entre mortos e feridos, não se salvaram todos
Reerguidos, ainda marcham fúnebres os tolos

Criaram o mundo como sua imagem e semelhança
Rasgaram todos os véus, esmagaram a esperança

Quando veem um pobre, dizem bate! Bate!
Lambe minha botas pois é só isso que você sabe.

E Não me venha dizer que é cidadão
Idiota, você já nasceu imerso dentro de uma prisão

Isso é realidade, não ironia
A depressão corrói todo o meu dia

Mas encarando a barbárie, resolvi me rebelar
Se rebelo, me revelo belo ao revelar

Que os sonhos quem me cativam não são do cativeiro
Se um dia fui cativo, hoje sou desordeiro

Só que eles continuam a comer o bolo inteiro
E me chamam de ladrão, bicha, maconheiro

Mas pode ter certeza, meu parceiro
Não tenho mais tempo para o desespero
Sou fé, minha luta nem sempre recebe palma
A utopia está etranhada na minha alma

Até a vitória, companheiro!

terça-feira, fevereiro 21, 2012

Lealdade, ainda que tardia

As dores que sonho
são mais do que as dores
do que
fomos. Sonhadores,
seremos imortais naqueles que
ao sonho são leais.

terça-feira, janeiro 31, 2012

Sonho simples




Olhe pro lado e veja quem continua de pé
mesmo se o almejado não vier;
um otimismo que queremos sempre ter.
Mas o horizonte resgata nossa fé
no futuro, e desagua na maré
lavando a alma em mais um doce entardecer.

Longe de mim querer resolver
os problemas do mundo com apenas um dizer

Tenho um sonho simples que insisto em crer:

não faça com os outros o que não queres que façam
com você. 

quarta-feira, janeiro 18, 2012

A rua é meu lar


Para Sergio Vaz

Viro a lata, não respeito a mordomia
Intacta apenas minha rebeldia

Ainda me encaram e dizem
que não presto.

Valeu, então
diga isso
aos meus versos. 

domingo, dezembro 04, 2011

Afirmações, interrogações e exclamações, mas sem reticências e ponto final



Se toca o interfone
Imagino
É você!
Mas que nada, é apenas o entregador da farmácia com os remédios que eu mesmo pedi

Se chega uma mensagem no celular
Penso
É você!
Entretanto, é a operadora de celular realizando propagandas que eu mesmo não pedi

Se o telefone de casa toca
Acredito
É você!
Só que a ligação não era pra mim

Pior do que sofrer talvez seja fingir que não se sofre
Não aceitar a dor, e do alto de toda arrogância dizer “sou forte”

Aprendi, na dor e no amor, que não sou forte, tampouco fraco

Sou humano
 por isso amo por isso sofro por isso vivo

E caso (sonhar também é humano!) você ligasse perguntando se eu estava feliz com o domingo do meu Flamengo
Eu responderia:

-Oi? Não entendi!

- Tá ruim a ligação?

-Não, ao contrário: queria ouvir sua voz novamente


quarta-feira, setembro 21, 2011

Desejo implícito

- Eu te dou a mão,  e você quer logo o braço...

-Primeiro:
o braço não.

O corpo inteiro.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Ironia

"A metáfora é a alma da poesia",

Mas se assim for:
(indolor)
não usaremos mais metáforas
Seremos alma
E a poesia, rebeldia.

quinta-feira, novembro 25, 2010

Durante o dia

E quem ficou xingando os Direitos Humanos durante o dia todo irá dormir tranquilo no dia de hoje. Provavelmente feliz por terem "invadido" mais uma favela, seja la qual for. Não interessa quem mora ali, porque mora e como mora. Não interessa se  essas pessoas tem sonhos ou medos. Não interessa inclusive se são pessoas. O que interessa é que mais uma favela foi invadida, e que irei dormir no dia de hoje. Eu gostaria de um dia, apenas um dia, que as pessoas que não vão conseguir dormir hoje no Alemão, Vila Cruzeiro e diversas comunidades não fossem limpar as casas dos outros, vender nas lojas ou sorrir nos cabeleleiros. Não fossem dizer "bom dia" nas secretarias dos consultórios médicos ou na portaria dos prédios. Ficassem apenas abraçados com seus filhos e filhas, ao lado dos seus avós. E depois de alguns dias, as comunidades estariam limpas, bem cuidadas, cheias de sorrisos, todos trabalhando em prol do outro, como fazem nas horas vagas. E nos prédios da "Zona Sul", todos reclamando com todos. Buscando os culpados pelo absurdo. E alguém, falaria, esboçando um sorriso: 

"Decidimos não invadir a vida de vocês."

terça-feira, novembro 02, 2010

Gente Pobre - Dostoiévski

“Gente pobre é caprichosa – e é assim por disposição da natureza. Mesmo antes eu o sentia, e agora comecei a sentir ainda mais. Ele, o homem pobre, é exigente; até para esse mundo de Deus ele tem outra maneira de olhar, olha de soslaio para cada transeunte, lança a seu redor um olhar confuso e fica atento a cada palavra que ouve – não é dele que estão falando ali, diz? O que estão comentando, como pode ser tão feioso? O que é que ele, precisamente, sente? E, por exemplo, como será ele desse ponto de vista, como será daquele ponto de vista? E todo mundo sabe, Várienka, que uma pessoa pobre é pior que um trapo e não é digna de nenhum respeito da parte de ninguém, seja lá o que for que escrevam! Eles mesmos, esses escrevinhadores, podem escrever o que for o que for! – para o pobre, vai ficar tudo como sempre foi. E por que vai ficar na mesma? Porque num homem pobre, na opinião deles, tudo deve estar virado do avesso; porque ele não deve ter nada de secreto, nenhuma vaidade que seja, de jeito nenhum! Emiliá estava me dizendo outro dia que a cada dez copeques arrecadados lhe faziam uma espécie de inspeção oficial. Eles achavam que estavam lhe dando suas moedas de dez copeques de graça – mas, não: eles estavam pagando para que lhes fosse exibido um homem pobre. Hoje em dia, minha filha, até mesmo a caridade é feita de um modo esquisito... , mas talvez tenha sido sempre assim, quem é que sabe! Das duas uma – ou não sabem como faze-lo, ou então são verdadeiros mestres nessa arte. Talvez não soubesse disso, mas é como lhe digo! Em outros assuntos não nos metemos, mas nestes somos notórios! E por que é que um homem pobre conhece isso tudo e ainda pensa nessas coisas todas? Ora, por que? Por experiência! Porque ele sabe, por exemplo, que o senhor ao seu lado está indo para um restaurante em algum lugar e pensando com os seus botões: e esse funcionário miserável, vai comer o que hoje? Porque eu vou comer papillotes sauté, enquanto ele provavelmente vai comer mingau sem manteiga. E o que ele tem com isso, se eu vou comer mingau sem manteiga? Há homens assim, Varienka, e como há, que só pensam nessas coisas. E eles vão andando, os pasquineiros indecentes, e olhando, po exemplo se você pisa na calcada de pedra com o pé inteiro ou com uma pontinha; olha lá, dizem eles, o funcionário tal, conselheiro titular do departamento tal, com os dedos nus saindo para fora da bota, e olha como os cotovelos estão puídos – e depois ainda escrevem isso tudo lá do jeito deles e publicam esse lixo... E é da sua conta se o meu cotovelo está puído? E se me perdoa a palavra grosseira, Varienka, então eu lhe direi que um homem pobre, nesse sentido,  sente o mesmo pudor que você, para dar um exemplo, um pudor virginal. Pois você não se poria – perdoa-me a palavra grosseira – a despir-se diante de todo mundo; é precisamente disso que o homem pobre não gosta, que fiquem bisbilhotando em seu cubículo, que digam como é sua vida familiar – aí é que está. E que motivo tinha então para me ofender, Varienka, juntando-se aos meus detratores para atentar contra a honra e vaidade de um homem honesto!”

Carta de Makar Diévuchkin à Varvara Alieksiêvna. “Gente Pobre” de Dostoiévski, publicado em 1846. Pág 104-105

segunda-feira, outubro 25, 2010

Born to be wild

Quando nasci,
 um anjo torto desses que vivem na sombra
disse: Poetaquepariu!

domingo, agosto 01, 2010

Voltando ao blog

Vou voltar a utilizar mais o blog. O que acontece é que atualmente escrevo mais músicas que poesias. Postarei algumas coisas logo.

sábado, abril 03, 2010